“Suicida! Suicida! Criminoso! Infame!” — gritos assim cercavam-me de todos os lados. Onde os sicários de coração empedernido? Por vezes, enxergava-os de relance, escorregadios na treva espessa e, quando meu desespero atingia o auge, atacava-os, mobilizando extremas energias. Em vão, porém, esmurrava o ar nos paroxismos da cólera. Gargalhadas sarcásticas feriam-me os ouvidos, enquanto os vultos negros desapareciam na sombra. Para quem apelar? Torturava-me a fome, a sede me escaldava. Comezinhos fenômenos da experiência material patenteavam-se-me aos olhos. Crescera-me a barba, a roupa começava a romper-se com os esforços da resistência, na região desconhecida. A circunstância mais dolorosa, no entanto, não é o terrível abandono a que me sentia votado, mas o assédio incessante de forças perversas que me assomavam nos caminhos ermos e obscuros. Irritavam-me, aniquilavam-me a possibilidade de concatenar ideias. Desejava ponderar maduramente a situação, esquadrinhar razões e estabelecer novas diretrizes ao pensamento, mas aquelas vozes, aqueles lamentos misturados de acusações nominais, desnorteavam-me irremediavelmente. — Que buscas, infeliz! Aonde vais, suicida? Tais objurgatórias, incessantemente repetidas, perturbavam-me o coração. Infeliz, sim; mas, suicida? — nunca! Essas increpações, a meu ver, não eram procedentes. Eu havia deixado o corpo físico a contragosto. Livro Nosso Lar. Capítulo 2: "Clarêncio" Os momentos descritos pelo Espírito André Luiz são característicos das consciências lesadas e perturbadas no plano espiritual. É a Lei Divina operando no interior da casa mental. A justiça em nossa própria consciência. “Onde os assassinos de coração endurecido?” questiona ele. André desencarnou pelas vias do suicídio, que vamos estudar mais tarde a causa morte dele e a nova definição para alguns sobre o assunto, já esclarecida no O Livro dos Espíritos em 1857. Um tipo de suicídio muito comum entre nós encarnados, que até a publicação da obra Nosso Lar não era tão bem elucidada suas causas e consequências no mundo espiritual. Não é uma novidade para quem estuda o O Livro dos Espíritos-OLE , na sua última e quarta parte, encontraremos que vícios e paixões nos transformam em suicidas, quando apressamos a morte, destruindo nossas reservas de energias biológicas, pouco a pouco . 952. Comete suicídio o homem que perece vítima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas? “É um suicídio moral. Não percebeis que, nesse caso, o homem é duplamente culpado? Há nele então falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.” (OLE) Está bem claro na resposta que a falta de vontade de mudar é grave para os que tem um vício e não lutam para se libertarem. O Espírito consciente que está se destruindo pelos maus hábitos e não se esforçam para mudar é duplamente culpado. No livro Memórias de Um Suicida, do Espírito Camilo, da Médium Ivone do Amaral Pereira , há uma descrição semelhante a do André Luiz, pelo Espírito Camilo, relatando estar ele em uma região espiritual sombria, e que era constantemente atacado por outras entidades acusadoras que lhe faziam agravar a sensação de dor e desespero. Ele chamava a região de Vale dos Suicidas, cujos moradores chamou-os de Réprobos, que quer dizer Condenados . O livro MEMÓRIAS DE UM SUÍCIDA da Médium Ivone do Amaral Pereira teve um processo de criação e publicação incomuns. Começou em 1929 e só foi publicada em 1954. Em 1944 Ivone foi entregar o Livro na Federação Espírita Brasileira ao então examinador da FEB Manoel Quintão, que recusou a publicação do livro. Só estava recebendo livros mediúnicos do Francisco Cândido Xavier, pois haviam duzentos livros para ele analisar. Ivone saiu da FEB acreditando que a sua obra era uma mistificação, resolvendo queimar os livros. Ao acender o fósforo para a queima uma voz, do Dr. Bezerra de Menezes, pediu que esperasse e guardasse a obra. Após algum tempo o Espírito do Léon Denis, apóstolo do Espiritismo, lhe aparece e revela que o livro estava incompleto, que iria reescrever a obra. Ivone fora novamente, após a conclusão, levar a obra ao Presidente da FEB Wantuil de Freitas, que relatou que a obra tem que ser datilografada. Como a Ivone não tinha condições de comprar uma máquina de escrever, guarda novamente a obra. Sete anos depois ela ganhou de presente, do sobrinho César Augusto, uma máquina de escrever e em 1954 a FEB lança a primeira edição do livro Memórias de um Suicida. Do início das mensagens mediúnicas até a publicação foram 25 anos. O livro narra que há uma região no Mundo Espiritual habitada por criminosos e suicidas. Relata o Espírito Camilo: "Quem ali temporariamente estaciona, como eu estacionei, são grandes vultos do crime! É a escória do mundo espiritual - falanges de suicidas" Conhecido no Mundo Espiritual como Vale Sinistro, também era conhecido por ser o Vale dos Suicidas , habitado por uma grande população de suicidas com uma característica comum que identificava o motivo do seu desencarne. O Suicídio. São regiões habitadas por muitos espíritos infelizes. Há também muitos espíritos endurecidos pela maldade calculada e premeditada, provocadores de mais sofrimentos em muitos espíritos enfraquecidos moralmente que lá habitam. Passando a sensação de estarem no inferno, atormentando-os com sarcasmos, acusações e agressões físicas. Algo semelhante ao que André Luiz passava. Podemos perguntar: Por que não retirar esses Espíritos sofredores de situação tão desditosa? No livro Missionários da Luz, obra do Espírito André Luiz, pelo médium Francisco Cândido Xavier, encontraremos um exemplo que motiva os Espíritos socorristas a não intercederem, em algumas situações, no salvamento apressado dos suicidas das maldades dos Espíritos inferiores. No caso um homem planejara sua morte pelo suicídio, tornando-se vítima no plano espiritual de abusos de um bando de entidades perversas. Apesar da tentativa da equipe socorrista de o ajudar, o suicida ficou preso, por ele mesmo, de vibrações pesadíssimas e angustiosas, impedindo qualquer tentativa de auxílio. São importantes os relatos, pois há pessoas que creem que os Espíritos Socorristas tem todo o poder de alterar as leis Divinas, quando queiram. Na verdade há muitas limitações impostas pelas leis de Justiça que impedem o socorro sem que haja maiores prejuízos, tanto moral como físico, para as vítimas de si mesmas. O bando de entidades perversas de vibração semelhante a do suicida facilmente carregou aquele homem. Vejamos um trecho do dialogo entre Alexandre e o André Luiz do livro Missionários da Luz: – Mas o visitador regional, como guarda destes sítios – inquiri(André Luiz), espantado –, não poderia defender o suicida infeliz? – Se ele fosse vítima de assassínio, sim – respondeu o instrutor –, porque, na condição real de vítima, o homem segrega determinadas correntes de força magnética suscetíveis de pô-lo em contato com os missionários do auxílio; mas no suicídio previamente deliberado, sem a intromissão de inimigos ocultos, como este sob nossa observação, o desequilíbrio da alma é inexprimível e acarreta absoluta incapacidade de sintonia mental com os elementos superiores. – Mas – indaguei, assombrado – as sentinelas espirituais não poderiam socorrer independentemente? Esboçou Alexandre um gesto de tolerância fraterna e acentuou: – Sendo a liberdade interior apanágio de todos os filhos da Criação, não seria possível organizar precipitados serviços de socorro para todos os que caem nos precipícios dos sofrimentos, por ação propositada, com plena consciência de suas atitudes. Em tais casos, a dor funciona como medida de auxílio nas corrigendas indispensáveis. André Luiz, passa pela experiência dolorosa como medida de auxílio para corrigir e também prevenir possíveis práticas impróprias as leis divinas. Apanágio de todas as criaturas, ou seja, direito de todas as criaturas a liberdade de escolha. É natural a visão daqueles que não veem a misericórdia em casos como esse. Mas há uma frase do Espírito Alexandre que chama a atenção: "– Não se surpreenda, meu amigo. A morte física não é banho milagroso, que converta maus em bons e ignorantes em sábios, dum instante para outro." Há uma grande e considerável crença que após a morte todos os problemas da vida são encerrados milagrosamente, e que hábitos ignóbeis quando encarnados são liberados pela misericórdia Divina. Se assim fosse fazer o bem não teria maior mérito que o mal, já que a morte limparia todas as faltas. O arrependimento sem reparação das vítimas também parece injusto. O suicida que citamos como exemplo é socorrido por Alexandre, no momento adequado, conforme o livro Missionários da Luz relata. Já estudamos aqui, citando o livro Ação e Reação outros motivos de não socorrer deliberadamente criminosos, que por sua vontade própria, por atitudes infernais, criaram infernos para si mesmos. É uma lição que devemos gravar. Deus não vai por as mãos por cima das nossas faltas. Ele não nos abandona, aguardará pacientemente o momento do nosso verdadeiro arrependimento, não obstante Sua Justiça ser inexorável. Outro ponto que podemos analisar é a citação do André Luiz sobre a cólera. Diante das acusações André Luiz perdia o controle no " paroxismo da cólera". Paroxismo da cólera quer dizer no auge da cólera, deixa-se levar pelo descontrole, deixando-o ainda mais fraco, dificultando seu restabelecimento. Esse mau hábito tem destaque dentro das revelações Espíritas como gravíssimo para a nossa saúde física e espiritual. No O Evangelho Segundo o Espiritismo-OESE de Allan Kardec há uma lição sobre a cólera, que é importante relembrarmos. André Luiz no paroxismo da cólera perdia totalmente o controle e atacava, perdendo mais energias e dificultando o seu restabelecimento no Mundo Espiritual. Qual a origem do comportamento colérico do André Luiz? O orgulho. Não reconhece a culpa. Acha-se injustiçado. Quando retirado o véu que lhe encobria as suas faltas, no seu ponto de vista, tenta a fuga pela revolta. Parte para a agressão como único recurso que tem para tentar comprovar uma inocência impossível. Às vezes, cometemos delitos conscientes e quando descobertos no geral não aceitamos as acusações, partindo, pelo orgulho ferido, ao contra-ataque, ignorando que os atos foram nossos, ou usando como defesa atitudes violentas. Consequências do orgulho exteriorizado em atos coléricos. O livro “Chico Xavier, à Sombra do Abacateiro” , relata o episódio em que Chico Xavier foi questionado sobre a grande incidência de crimes na atualidade e sobre a pena de morte. Chico respondeu: “Emmanuel costuma dizer que o criminoso é sempre um de nós que foi descoberto.” A cólera e alguns outros comportamentos intempestivos são promotores de grandes perdas de energias, enfraquecendo o ânimo e o corpo, originando enfermidades diversas, agravando enfermidades já estabelecidas no corpo. Seja o corpo biológico ou espiritual. Vamos ver no futuro que a causa principal da morte do André Luiz foi o seu comportamento colérico. Cólera pode nos levar a ser reconhecido no Plano Espiritual como suicida. Tenhamos cuidados e trabalhemos para mudar esse mau hábito, caso tenhamos, que nos antecipa a morte, através de técnicas de meditação, visualizações, exercícios e tantos outros instrumentos de reeducação e equilíbrio mental. Não faltam mecanismos para isso. Vamos procurar. Pessoas há que são coléricos e não se dão conta. O colérico só expressa geralmente sua cólera quando no seu auge, mas ela pode ser um estado íntimo do ser, e ser tão autodestrutivo como no seu paroxismo. Basta uma pequena crítica ou um oposição de suas ideias para a pessoa ficar sem dormir, guardar rancor, etc. Que bom que tudo passa e até nossos comportamentos imperfeitos podem serem corrigidos. Animemo-nos pois vamos conseguir vencer. Valorizemos os instrumentos do corpo que Deus nos concedeu para a nossa evolução Um grande abraço, saúde e muita Paz! A todos e a todas!Estudo Proposto
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“Em seu frenesi, o homem colérico a tudo se atira: à natureza bruta, aos objetos inanimados, quebrando-os porque lhe não obedecem.” OESE.cap IX. It.9.
“E assim, por exemplo, que o indivíduo, propenso a encolerizar-se, quase sempre se desculpa com o seu temperamento. Em vez de se confessar culpado, lança a culpa ao seu organismo, acusando a Deus, dessa forma, de suas próprias faltas. E ainda uma conseqüência do orgulho que se encontra de permeio a todas as suas imperfeições.” OESE.cap IX. It.10.
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0036-Suicida? Eu?
“O orgulho vos induz a julgar-vos mais do que sois; a não suportardes uma comparação que vos possa rebaixar; a vos considerardes, ao contrário, tão acima dos vossos irmãos, quer em espírito, quer em posição social, quer mesmo em vantagens pessoais, que o menor paralelo vos irrita e aborrece. Que sucede então? - Entregais-vos à cólera.”OESE.cap IX. It.9.